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José Luís Peixoto está em Liubliana, onde participará em várias atividades à volta da apresentação da edição eslovena do romance Galveias, publicado pela editora Beletrina, e da edição do livro infantil A Mãe Que Chovia, publicado pela editora Malínc em 2022.
13 março, 10h — Universidade de Liubliana
13 março, 20h — Klub Cankarjev dom
14 março, 11h00 — Matiné A Mãe que Chovia
Acompanhe o José Luís Peixoto num passeio pela cidade de Liubliana aqui:
No Natal de 2013, o Ensemble Contemporaneus estreia a obra "A Mãe que Chovia", um conto musical para narrador e ensemble composto por Pedro Louzeiro e baseado no conto homónimo de José Luís Peixoto.
Este conto fala-nos da história de uma criança que é filha da chuva, e sendo a sua mãe algo tão importante para todos seres da Terra, ele terá de aprender a partilhar o amor materno com o mundo.
Um espetáculo para toda a família, que procura homenagear o amor incondicional das mães, através da junção das belas palavras de José Luís Peixoto à música de Pedro Louzeiro.
No dia 8 de Dezembro, às 16 horas, no Teatro Bernardim Ribeiro, em Estremoz
No dia 14 de Dezembro, às 21h30, no Centro de Artes do Espectáculo, em Portalegre
No dia 19 de Dezembro, às 19 horas, na Biblioteca Pública, em Évora
A mãe que chovia é a primeira incursão de José Luís Peixoto pelo universo da literatura dedicada aos mais jovens: um livro belíssimo, com a sensibilidade de linguagem de um grande autor, que assume que escrever para crianças não equivale a simplificações, nem da história, nem do estilo, nem das potencialidades criativas da língua.
Como sempre acontece com os textos que verdadeiramente podemos classificar de literatura, a simplicidade desta narrativa depressa se desenvolve em planos sucessivos de leitura, que ultrapassam a linearidade aparente da história narrada. E o grande desafio literário, notoriamente superado neste livro, é fazer com que a própria linguagem adquira a capacidade de contar os factos mais estranhos e inverosímeis, com tal naturalidade e sabedoria que provoca no leitor imediata superação de qualquer efeito de estranheza, embrenhando-se no universo da realidade e lógicas próprias do universo ficcional.
O livro conta-nos a história de uma criança que é filha da chuva. E esta facto é dado simplesmente como adquirido, sem mais explicações, nas primeiras frases do texto: «Desde sempre que toda a gente lhe dizia que era filho da chuva». Segue-se depois o dissipar das dúvidas do leitor, se as houvesse, através da caracterização da criança, o protagonista sem nome, que vai crescendo ao longo destas páginas: «Mas esse rapaz esperto, composto por boa disposição e com a idade de mais ou menos, não precisava que lhe dissessem que era a sua mãe. Ele conhecia-a melhor do que os assuntos que conhecia mesmo bem.» A mãe chuva aparece como uma verdadeira mãe, que vai seguindo do alto as passadas do seu filho, mas como no mundo inteiro «só ela sabia chover», viajava muito e «no verão tinha de ir chover em países distantes». Ora o menino ia crescendo, cada vez mais aborrecido e revoltado com as ausências da mãe: «Nesse ano, antes do verão, o rapaz começou a ficar coitado.» A mãe teimava em ficar, mas o vento, pouco dado a conversas, empurrou-a para bem longe, de novo, obrigando-a a cumprir o seu ciclo sazonal.
No final, o filho acaba por aceitar e, num discurso poético, ato de amor à sua mãe chuva, declara-lhe que compreendeu que sem ela «a palavra verdejante não existiria» e mostra-lhe como se apercebeu de que a mãe «chovia palavras sobre o mundo», inundando-o de amor. Assim, neste realismo mágico que reconhecíamos dos primeiros livros de José Luís Peixoto, não é só de um amor entre a mãe e filho que nos fala o livro, como também das angústias pelas, por vezes necessárias, separações, como também da própria natureza, suas necessidades intrínsecas. As ilustrações, de Daniel Silvestre da Silva, acompanham lindamente o dramatismo do texto, oscilando entre o registo realista, quase fotográfico, e uma tonalidade onírica que tão bem acentua a poeticidade do registo adoptado por José Luís Peixoto, neste livro.
Rita Taborda Duarte, in Leitura Gulbenkian
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