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Escolhe uma entre as mil árvores entrançadas
que se penduram em escarpas de ilhéus
sobre as águas planas da Baía de Phang Nga.
Enquanto passas no teu barco de madeira,
envia-lhe em silêncio todo o bem-querer.
Ela entenderá, essa é a língua das árvores.
Deseja-lhe com sinceridade que seja feliz,
que apenas conheça a vida leve e justa,
que os pensamentos não a atormentem.
Assim, quando estiveres longe, esta árvore
ainda se lembrará de ti. Será manhã sobre
este mar que te impressionou, será noite
talvez onde estiveres. Se o peso da angústia
não te cegar, se não te afogares no peso
da angústia, talvez te lembres dela também.
O mais certo é que nunca se voltem a ver.
Mesmo que regresses a esta baía, ela será
indistinta entre mil árvores entrançadas,
e tu serás indistinto entre mil que passam
em barcos de madeira como este, que levantam
a mesma espuma, que deixam o mesmo rasto.
Mas, para sempre, no grande tempo absoluto,
na ordem secreta, final e indestrutível, ela será
a tua árvore e tu serás a pessoa dela.
José Luís Peixoto, inédito
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