De Nanci Sampaio a 27.05.2012 às 23:37
Querido José Luís:
Gostaria de lhe conquistar muitos leitores, pois seus livros me ganharam em definitivo, mas não tenho esse poder. Por outro lado, sem encontrar as palavras certas para mostrar todo meu apreço por seus textos, copio abaixo o que publiquei após a releitura de Uma casa na escuridão.
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"Tudo ressoa, mal se rompe o equilíbrio das coisas"
(...) A palavra é o mais perfeito dos sons humanos; a literatura, por sua vez, é a mais perfeita forma de palavra. E assim, quando o equilíbrio se rompe, o céu escolhe entre os homens os que são mais sensíveis e os faz ressoarem".
Recorri a esses versos do poeta chinês Han Yu (séc. VIII), cujo texto me foi apresentado como uma bela definição de literatura. E o fiz porque JOSÉ LUÍS PEIXOTO RESSOA [em mim]!Sua música e sua poesia ecoam com força.
Precisei reler Uma casa na escuridão para perder a vergonha de sentir e falar sobre meus pequenos instantes de felicidade.
Hoje, sei que a abertura do livro MISERICORDIA TUA MAGNA EST SUPER ME é uma inscrição que o autor leu numa igrejinha de sua terra natal. José Luís declarou que, no passado, os editores hesitaram na publicação de livros no Brasil, porque não gostamos de livros tristes (?)e assim esses editores me impediram de encontrar há mais tempo tanta beleza...
Mas apesar desta sugestão inicial que remete à misercórdia divina e embora haja, ao longo da narrativa, outras citações biblícas, ecoa em minha lembrança a pronúncia do nome do melhor amigo do narrador: o príncipe de calicatri.
calicatri - essa palavra tão musical, que deve cheirar a lavanda, para aliviar nossas feridas. Apaixonei-me pelo príncipe de calicatri: triste, triste, o menino que correu o mundo, meu irmão, meu amigo, belo e triste.
O príncipe de calicatri que tanto me encantou com os olhos, me falou também com palavras "trago dentro do meu coração, como num cofre que não se pode fechar de cheio, todos os lugares onde estive, todos os portos a que cheguei, todas as paisagens que vi através da janela." O olhar do príncipe de calicatri era cheios de verdade e seus olhos parados foram como um rio sob a noite.
Dizem por aí que José Luís gosta de trazer suas vivências pessoais para seus livros. Acredito que ao escritor só é possível escrever o que ele é. Nessa casa na escuridão, José Luís me aparece como o príncipe de calicatri; com quem sigo de mãos dadas.
Obrigada!
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Espero lhe encontrar na FLIP e despeço-me por enquanto, com um abraço, da Nanci, desde São Paulo - Brasil.