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É, sem dúvida, uma obra prima da literatura portuguesa. Um romance sobre a emigração económica e também política, dos anos cinquenta até à Revolução de Abril e à actualidade.
As descrições minuciosas e perfeitas da vila alentejana e das suas gentes encontram paralelo na visão dos bairros da lata de Champigny e Saint Denis.
Livro, título da obra, é simplesmente o livro que Ilídio dá à sua namorada Adelaide e o nome que esta dará mais tarde, casada em Paris com o intelectual comunista Constantino, ao filho que nasceu de um fortuito encontro com Ilídio, numa sua vinda à terra sem o marido.
As personagens, muito elaboradas, são de uma verdade e de um pitoresco fabulosos, cruas e por vezes muito originais e coloridas; o Cosme, amigo do coração de Ilídio e de Adelaide; o padre manhoso e falso; o generoso e leal Josué, pedreiro e mestre de Ilídio, seu amigo; a negra Sidonie, a quem Livro ensina a literatura; a velha, luxoriosa e gananciosa, Lubélia, enterrada viva.
A interioridade riquíssima de Livro mostra um ser complexo, que tudo abrange e finalmente se revela autor de tudo o que lemos, autor, narrador e personagem. Dito isto, sentimos que não dissemos ainda o essencial, porque este romance é a tal ponto renovador que dá à pungência da realidade social como que um toque de magia, fundindo-a nos sonhos dos emigrantes, cristalizados nas suas casas afrancesadas, cheias de azulejos e de ostentação.
A poética de José Luís Peixoto está muito discretamente na sua escrita, pelo meio de exuberantes referências culturais.
Leiam e verão se este não é o ponto mais alto de um escritor por vezes, como Saramago, tocado pelo génio.
Urbano Tavares Rodrigues
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